ATA DA VIGÉSIMA QUARTA SESSÃO SOLENE DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA
ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 21.10.1997.
Aos vinte e um dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e
noventa e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara
Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e quarenta minutos, constatada a
existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os
trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear o Dia do Médico,
nos termos do Requerimento nº 49/97 (Processo nº 779/97), de autoria do
Vereador Cláudio Sebenelo. Compuseram a Mesa: o Vereador Paulo Brum, 1º
Secretário da Câmara Municipal de Porto Alegre, neste ato presidindo os
trabalhos; o Senhor Flávio Moura D'Agosto, Presidente do Sindicato Médico do
Rio Grande do Sul e Secretário de Relações Internacionais da Federação Nacional
dos Médicos; a Senhora Imara Santos, representante da Secretaria Estadual de
Saúde; o Senhor Tomaz Wonghon, representante do Vice-Governador do Estado do
Rio Grande do Sul; o Capitão Cincinato Fernandes Neto, representante do
Comando-Geral da Brigada Militar; o Deputado Estadual Eliseu Santos, Presidente
da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio
Grande do Sul; o Vereador Cláudio Sebenelo, proponente da Sessão e, na ocasião,
Secretário "ad hoc". Ainda, como como extensão da Mesa, foram
registradas as presenças do Senhor Ênio Casagrande, Diretor-Técnico do Hospital
Moinhos de Vento; do Senhor Carlos Eduardo Neri Paes, Diretor-Geral do Hospital
de Pronto Socorro; do Senhor Nelson Uez Martine, Diretor-Administrativo do
Grupo Hospitalar Conceição; do Senhor Olímpio D'Amagro, Diretor-Geral
Administrativo da Santa Casa de Misericórdia; do Senhor Telmo Crusi,
representante do Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto Alegre; da Senhora
Marjane Bartolomé Martins, médica da Câmara Municipal de Porto Alegre. Em
prosseguimento, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a
execução do Hino Nacional, e, a seguir, concedeu a palavra aos Vereadores que
falariam em nome da Casa. O Vereador Cláudio Sebenelo, como proponente e em
nome das Bancadas do PSDB, PTB, PDT, PMDB, PPS e PSB, discorreu sobre as
dificuldades atualmente enfrentadas pelo médico, principalmente pelos que atuam
junto à rede pública de saúde, em sua busca de proporcionar um atendimento de
qualidade à população. O Vereador João Motta, em nome da Bancada do PT, prestou
sua sua homenagem aos médicos, destacando a atuação desses profissionais na
busca da preservação da vida humana e tecendo considerações sobre a qualidade
do atendimento médico prestado nos hospitais de Porto Alegre. O Vereador João
Dib, em nome da Bancada do PPB, manifestou sua satisfação em participar da
presente homenagem, ressaltando a abnegação da categoria dos médicos no
exercício de seu trabalho e home
O SR.
PRESIDENTE (Paulo Brum): Estão abertos os trabalhos da 24a. Sessão Solene, proposta pelo Ver.
Cláudio Sebenelo, destinada a homenagear o Dia do Médico.
Convidamos para fazer parte
da Mesa o Presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul e Secretário de
Relações Internacionais da Federação Nacional dos Médicos, Dr. Flávio Moura
D’Agosto; o representante da Secretaria Estadual de Saúde, Dra. Imara Santos; o
representante do Vice-Governador do Estado, Sr. Tomaz Wonghon; o representante
do Comando Geral da Brigada Militar, Cap. Cincinato Fernandes Neto; o
Presidente da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa, Dep.
Eliseu Santos.
Neste momento, nós
convidamos a todos para ouvir a execução do Hino Nacional.
(Procede-se à execução do
Hino Nacional.)
Neste momento, concedemos a
palavra ao Ver. Cláudio Sebenelo, como proponente, que fala pelas Bancadas do
PSDB, PTB, PDT, PMDB, PPS e do PSB.
O SR. CLÁUDIO
SEBENELO: O
Dia do Médico marca um importante momento de análise da atividade de um dos
mais profícuos meios de assistência ao ser humano, do exercício de uma
profissão que tem por base algo muito escasso para os nossos tempos: a solidariedade.
Talvez, um dos setores onde mais se registra o aproveitamento dessa explosão
tecnológica que, se por um lado nos aflige pelo vertiginoso, por outro,
demonstra toda a glória e a grandeza a que pode atingir o saber na espécie
“hominis”.
(Saúda os componentes da
Mesa.) Sim, estamos nós, médicos, em crise. É crítica a situação de uma
corporação profissional que trabalha em um país capitalista e é obrigada a
aceitar uma proposta socializante como modo de sua produção; é crítica a
situação de uma área social tão importante como a da saúde, ao contemplar a
nossa impotência e solucionar enigmas maiores e priorizar, talvez, a mais
delicada de todas as nossas chagas nacionais. Investimos, depois de um imenso
esforço de crescimento, 200 dólares, “per capita”, insignificantes, se
comparados a países como Canadá, 1.900 dólares, e os Estados Unidos, 3.500
dólares. É crítica a situação de um processo indefinido de atuação, pois, se a
Constituição Cidadã de 1988 assegura o dever de o Estado dar a garantia do direito
à saúde individual e não o faz integralmente, assegura um norte em direção à
municipalização; vão-se completar 10 anos de sua promulgação, e a extinção de
um paradigma não resultou na adoção de um mundo novo, oxigenando, pelo menos
paliativamente, os esclerosados caminhos do sistema. Municipalizamos muito
pouco. Estamos virando as costas para a democracia. Estamos em crise, porque
ainda não conseguimos resolver, civilizadamente, a nossa mortalidade infantil,
a recidiva de moléstias epidêmicas, dadas como extintas ou controladas, a
mortandade de nossas mulheres, que optam pelo aborto clandestino, o genocídio
do trânsito brasileiro, gravíssimos problemas que teimosamente permanecem nas
estatísticas crescentes, para nossa vergonha. Estamos em crise, porque ainda
tratamos a prevenção, a promoção da saúde e a medicina curativa de forma
inversamente proporcional ao que deveria ser a lógica distributiva de verbas,
fazendo da saúde do brasileiro um teorema contábil, reduzindo-o a “receita e
despesa”, esquecendo, na verdade, que a saúde de nosso povo tem que ser olhada,
preferencialmente, como uma atitude epidemiológica.
As concepções de atendimento
ao paciente mudaram intensamente nas últimas décadas deste século que está por
se encerrar. Com o advento da microscopia eletrônica, da fibra ótica, da
cibernética, da monitoração televisionada, invadimos nossos pacientes de forma
menos agressiva possível. Muitas vezes, nos flagramos pensando se não seria
melhor olhar primeiro para dentro de nós mesmos, profissionais da área de
saúde, conhecermo-nos mais intima e intensamente para depois invadirmos,
diagnóstica e terapeuticamente, a estrutura de um corpo que ainda não era de
todo conhecida. Não podemos, em nenhuma hipótese, aceitar o distanciamento da
relação médico-paciente imposta pela tecnologia, transformada equivocadamente
em vilã desse relacionamento. Na verdade, esse distanciamento era muito mais à
adaptação ao menor esforço, proporcionado pela tecnologia à qual o profissional
da área da saúde aderiu, confortavelmente, sem se aperceber do afastamento que
se decretava menos pela magia tecnológica e mais pela facilidade com que
abrimos mão desse relacionamento.
Hoje, a tecnologia tornou-se
responsável pelo que há de melhor em conforto ao paciente, seja pela facilidade
de métodos invasivos indenes, seja pela incruência de minimização da dor nos
processos maiores. Deixou a tecnologia de ser o vilão - que nunca foi - e
erroneamente nela projetamos nossas insensibilidades para transformar-se
precioso e sólido bem-estar para os nossos pacientes, sem dispensar o afeto, a
atenção e o nível de exigência do binômio vivido epidermicamente por nós,
médicos, com os verdadeiros donatários do sistema: O PACIENTE.
Um dia, saudavelmente,
chegaremos ao meio termo da barbárie da especialização, denunciada por Ortega y
Gasset, pois vemos a superespecialidade e o médico generalista como
complementares. Aos poucos, a relação vai sendo invertida, isto é, a antiga e a
novas tendências, antes antagônicas, por uma exigência pós-moderna altera,
inclusive, a formação acadêmica de graduação. Muda a direção do fluxo de
formação de profissionais, privilegiando, também, o generalista, e fazendo com
que os atendimentos primários e terciários sejam interdependentes e
articulados, e não mais uma guerra de poder entre as extremidades e suas
ideologias decorrentes.
Estamos em crise, porque em
pequeno lapso de tempo a classe transformou-se, antes dita liberal, em
operários assalariados, expondo-os à passagem de um extremo idealizado na
necessidade de algo mágico e pela proximidade de endeusados por essa sociedade,
para ser um ser humano como qualquer outro, quando flagrado em erro, ou
atendido sem qualquer custo, ou, ainda, quando se prestam serviços a uma
instituição pública ou privada, onde 95% da categoria se tornou assalariada. É
importante notar que a grande maioria das ações judiciais contra o exercício
profissional do médico é gerada através do atendimento do Sistema Único de
Saúde, onde a consulta médica é tão irrisória e aviltante, que mesmos os mais
severos analistas nos meios de comunicação confessam que há necessidade de
estabelecimento de novos critérios de remuneração profissional. Isso não é uma
desculpa da falta de qualidade, mas há urgente e imperiosa mudança na relação
entre os médicos que atendem o serviço público brasileiro, deixando de ser o
médico um desconhecido e o paciente, um número a mais. É indispensável uma
melhor qualidade no atendimento, pois, se podemos festejar os números numa
orgia quantitativa, nossa qualidade avaliada intuitivamente como ruim, nem
mesmo foram desenvolvidos dispositivos de aferição dessa qualidade.
Estamos em crise pelo
excessivo número de profissionais formados com qualidade duvidosa de ensino
médico e demanda de serviços menor do que a oferta de mão-de-obra, fatores de
aviltamento salarial, de baixa qualidade de serviço prestado e de subemprego e
desemprego.
Sim, Senhores, estamos nós,
médicos, em crise. Neste dia de tantas reflexões, podemos, mesmo com todos
esses nossos problemas, estar preocupados, mas estamos esperançosos, pelos
milhões de consultas atendidas, pelas milhares de internações em todo o País,
cuja relação há uma presidência indiscutível do binômio indissociável
médico-paciente, pelos erros de cada um e dos nossos erros coletivos, que deixaram
de ser enterrados e analisados. Passaram a servir de progresso, pela
popularização do ato médico hoje disseminado em todos os cantos do País, de
tamanho continental, em sua geografia e em seus problemas, enfrentados, na área
da saúde, por um exército que muitas vezes, com o sacrifício de vidas tão
preciosas, se doa em busca do progresso, da incruência, da mitigação da dor em
cada ato médico.
Pelos colegas que perdemos
no exercício desta função maior! Eles se foram; ao mesmo tempo, permanecem
conosco como exemplo de doação a que pode chegar um médico. A memória deles é a
nossa saudade, mas também o nosso orgulho. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE:
Queremos citar como extensão de Mesa: o Dr. Ênio Casagrande, Diretor Técnico do
Hospital Moinhos de Vento; Dr. Carlos Eduardo Neri Paes, Diretor-Geral do HPS;
Dr. Delson Uez Martine, Diretor Administrativo do Grupo Hospital Conceição; Dr.
Olímpio D’Amagro, Diretor-Geral Administrativo da Santa Casa de Misericórdia;
Dr. Telmo Crusi, representante do Conselho dos Cidadãos Honorários de Porto
Alegre. Também estão presentes: a Vera. Sônia Santos, que é Presidenta da
Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Ver.
Elói Guimarães; Ver. Gilberto Batista; Ver. João Dib; Ver. João Motta; Dra.
Marjane Bartolomé, médica da Câmara Municipal de Porto Alegre.
A Mesa registra que recebeu
correspondência, em apoio a esta Sessão Solene: do Ministro da Saúde, Carlos
César de Albuquerque; Dep. Nelson Marchezan; Dep. Federal Yeda Crusius; Dep.
Estadual Paulo Vidal, que é o Líder do PSDB na Assembléia Legislativa.
O Ver. João Motta está com a
palavra. Fala pelo Partido dos Trabalhadores.
O SR. JOÃO
MOTTA:
(Saúda os componentes da Mesa.) Prezados colegas Vereadoras e Vereadores presentes
nesta Sessão Solene. O cronista Paulo Sant’Ana, hoje, nos brinda na sua coluna
com uma crônica que retrata também a crônica de um médico, de um profissional,
onde, em síntese, se destacam os heróis médicos que recentemente faleceram em
um acidente de aviação, no exercício do seu trabalho. De fato, está na nossa
memória esse fato, e são mais do que justas as homenagens já prestadas de
diversas formas. Creio que a coluna, hoje, do Paulo Sant’Ana retrata mais uma
homenagem a esses heróis. E esta nossa Sessão, de certa forma, simbolicamente
traduz o reconhecimento da Câmara Municipal a esses profissionais. Eu gostaria,
entretanto, de lembrar também de profissionais que, se não são heróis, fazem um
trabalho quase que heróico, dadas as condições em todos os níveis, tanto de
trabalho como salariais, e dada a situação com que a questão da saúde é tratada
num país como o nosso. Evidentemente que não vou destacar todos, mas gostaria
de apontar o trabalho responsável, competente, de alguns profissionais médicos,
pelo menos em três áreas, para que eu seja breve em meu pronunciamento.
Em primeiro lugar, na área
da hemoterapia. Temos, aqui em Porto Alegre, dois grandes bancos de sangue: o
Hospital Conceição e o Hospital de Clínicas. Sabemos o quão grande é o grau de dificuldade
em termos, hoje, nesses locais, esse material insubstituível para a vida humana
que é o sangue, e temos de conviver com essa estatística infeliz de que apenas
20% do sangue coletado no País é voluntário, enquanto 80% é coletado através de
outros mecanismos mais incisivos. Nós temos um dado absolutamente diferente dos
dados dos países desenvolvidos. Nos países desenvolvidos 80% do sangue coletado
é feito de forma voluntária e apenas 20% é feito de forma necessária e quase
obrigatória. Gostaria de destacar, portanto, o trabalho que esses médicos,
esses profissionais fazem nessas horas, considerando esse cenário de absoluta
dificuldade.
Gostaria, também, de
destacar o trabalho profissional de inúmeros médicos do HPS, que deve ser
reconhecido mais uma vez por esta Casa. O HPS tem também uma situação de
absoluta dificuldade, a começar pelo custo geral, o que significa para o
Município de Porto Alegre manter a qualidade daquele atendimento na área do
pronto-atendimento. Se não fosse a responsabilidade e a competência
profissional de dezenas de médicos que prestam serviço naquele hospital, nós,
certamente, não teríamos nessa área do pronto-atendimento do trauma mais um
exemplo de um trabalho que, se não heróico, deve ser visto por todos nós como
tal.
Estamos hoje no centro de um
debate que é, infelizmente, por parte de alguns, incompreendido, ou seja, nós
achamos que é injusta, sim, a carga de recursos que o Município de Porto Alegre
despende praticamente sozinho, pelo menos na sua grande maioria, na medida em
que o que SUS repassa de recursos para o Pronto Socorro, comparativamente aos
30 milhões de gastos anuais, apenas 6,8 milhões. É, de fato, necessário
modificar por uma razão: é que 40% dos atendimentos que são feitos no HPS são
para pessoas do Interior do Estado. Já ouvi pela imprensa que nós estamos
inventando uma disputa política. Estamos aqui falando de profissionais de saúde
pública e, portanto, se não querem ter compromisso com a saúde pública e com
esses profissionais, que não inventem discursos para se esconder.
Gostaria de destacar uma
terceira área e que, por circunstâncias, tenho acompanhado desde o início do
meu trabalho aqui, na Câmara: é a área da Aids. Eu tenho encontrado, por vários
hospitais - e destaco dois que, por coincidência, são os mesmos, o Hospital de
Clínicas e o Hospital Conceição -, profissionais médicos exemplares no seu
esforço, responsabilidade e eficiência e, inclusive, esforço, sob o ponto de
vista científico, de não se contentarem com esse quadro atual da Aids. Ainda não
encontramos aquele elemento vital para preservar a vida humana. Hoje já estão
sendo testados diversos tipos de medicamentos que prolongam a vida, mas não que
se tenha a notícia da resolução do problema.
Portanto, eu concluo dizendo
que neste momento, nesta Sessão, nesta Câmara, nós também façamos reflexões não
só sobre os heróis médicos que já passaram, mas sobre os heróis médicos que nos
garantem aquilo que é fundamental neste dia ser relembrado e que,
simbolicamente, encontramos na figura do médico: o esforço e compromisso com a
vida. Eu gostaria que esta Sessão fosse mais uma vez a afirmação desse
compromisso. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: O
Ver. João Dib está com a palavra pelo Partido Progressista Brasileiro.
O SR. JOÃO
DIB: “Um
médico vai ver um doente e diz: ‘Estamos aqui, três presentes: você, eu e a
doença. Se você quiser ajudar-me e aceitar minhas indicações, seremos dois
contra a doença, que ficará sozinha e poderá ser vencida por nós’”. É do livro
Os Autores Árabes.
Sr. Presidente, Autoridades,
Médicos, Vereadores, Senhores e Senhoras, pelo dia 18, Dia do Médico, não posso
deixar de trazer aqui o reconhecimento pessoal a esta classe extraordinária. O
médico, com seu juramento, não é dono de si mesmo. O médico é uma figura que a
sociedade não pode dispensar e que lhe toma todo o tempo, querendo ele ou não,
porque, se ele é fiel ao seu juramento, ele tem todo o seu tempo para a
sociedade e muitos são os médicos que fazem isso, creio que a maioria.
Eu não poderia deixar de,
nesta oportunidade, agradecer e agradecer pessoalmente, e não vou fazer, Dr.
Flávio D’Agosto, a nenhum médico vivo, que também deveria fazer isso. Eu quero
lembrar a figura extraordinária de Ricardo Gavenski, neurocirurgião do Pronto Socorro
que, aos 42 anos, nos deixou, homem de uma dedicação extraordinária, dedicação
tão grande quanto a sua competência. Eu tive a oportunidade de, em um hospital
da Inglaterra, ouvir o Diretor do Hospital Stoke Mandeville dizer-me que eu
voltava para o Brasil para as mãos de um neurocirurgião extraordinário, que era
Ricardo Gavenski. A ele os meus agradecimentos, que deve estar lá no céu. Ao
Dr. Rubem Knijnik, figura extraordinária, humana, sensível, profissional
competentíssimo, dedicado e que me visitava enquanto eu estava no hospital e me
dava atendimento. Ele era mais do que um médico. Ele era um amigo. Ele me
contava piadas para que eu pudesse, como ele dizia, sorrir, não com os lábios,
mas com os olhos. Enquanto eu não sorrisse com os olhos, ele não saía. Meu
agradecimento e reconhecimento ao Dr. Eduardo Faraco, figura extraordinária que
todos conhecem, todos conheceram, Reitor da Universidade, mas que para mim foi
o clínico que me atendeu no Hospital de Pronto Socorro.
Eu li que “se o médico puder
curar, ele cura; se não puder curar, alivia; se não puder aliviar, ele
consola”. E os nossos médicos, os médicos do Rio Grande do Sul em especial, são
figuras que fazem isso. São figuras que nos honram, que nos orgulham pelo
pioneirismo de muitas das suas novas teses, de seus conhecimentos, pelo que
estudam. O que nós temos em matéria de transplante, o que nós temos em matéria
de aparelhos novos para microcirurgias, todos desenvolvidos aqui, sem que o
governo dê a esses profissionais as condições necessárias! Falo também daqueles
médicos que foram lembrados aqui pelo Ver. João Motta, que estão lá no Pronto
Socorro e que durante 365 dias do ano, 24 horas por dia, oferecem o seu
trabalho, o seu carinho, o seu zelo, a sua competência para salvar vidas.
Eu dizia, ontem, nesta
tribuna: não fora o extraordinário atendimento do Pronto Socorro, eu não
estaria aqui de pé, nesta tribuna, falando para o povo da Cidade que eu amo
tanto; eu teria, talvez, imensas dificuldades, mas entrei no Pronto Socorro, na
madrugada; imediatamente, com os parcos recursos do Pronto Socorro, o Dr.
Ricardo mandou buscar equipamentos em outro lugar. Eu fui operado, e a lesão
que havia na medula não chegou a ser seccionada; não houve um hematoma que
crescesse a esse ponto. Eu hoje posso caminhar. Com dificuldades? Sim, mas aí
lembro de Ricardo Gavenski, Eduardo Faraco, Rubem Knijnik e não vou falar sobre
aqueles médicos que ao longo desses 29 anos têm-me dado assistência
permanentemente. Também não vou falar de meus dois filhos, que são médicos.
Penso que um dia ainda a
Medicina terá o respeito e o carinho que merece, porque os nossos médicos
gaúchos são realmente extraordinários em todos os setores dela. Saúde e paz.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O
Ver. Gilberto Batista está com a palavra pelo Partido da Frente Liberal.
O SR. GILBERTO
BATISTA: (Saúda
os componentes da Mesa.) Ver. Cláudio Sebenelo, quando fui abordado pelo meu
Líder, o Ver. Reginaldo Pujol, nesta Casa, e ele fez o convite para que eu me
pronunciasse em nome do PFL, não pensei duas vezes: aceitei, porque é a
oportunidade ímpar de agradecer, enaltecer e valorizar aqueles profissionais
que cuidaram de meus familiares, amigos e pessoas desconhecidas. Agradecer a
eles o carinho, o profissionalismo e a dedicação em momentos às vezes difíceis,
por tratar-se de doença. Deus deu a vocês, Cláudio Sebenelo e médicos em geral,
a sabedoria e a bênção. Talvez o médico seja um dos profissionais mais
brilhantes, neste momento, no mundo em que vivemos. É o profissional que salva
vidas.
Ver. Cláudio Sebenelo, eu
tenho, na minha vida, uma frustração muito grande. Quando eu era adolescente e
entrava nos hospitais, nos consultórios, o sonho da minha vida era ser médico.
E dizia para a minha mãe: “Quero ser médico”. Ela perguntava: “Por que, meu
filho?” Eu respondia, rápido: “Quero ajudar, mãe, as pessoas doentes,
independente de sexo, cor, raça e posses. Quero ajudar pessoas a nascerem,
quero ser médico para salvar vidas”. Mas o destino não me colocou neste caminho;
estou noutra estrada.
Neste dia, vale ressaltar as
inúmeras dificuldades destes médicos que enfrentam hoje os hospitais públicos,
sucatados em todos os sentidos, mas estão lá, firmes e tentando, com o seu
dever, cumprir o juramento feito quando se formaram.
É bom lembrar de quantas
noites as suas família não os vêem, sendo o pai médico ou a mãe médica, de
tantos prazeres abdicados em favor da vida de outras pessoas. Abdicaram tanto;
a tudo e até à vida. E aqui quero fazer uma homenagem especial para aquele
grupo de médicos que morreu para tentar salvar outras vidas.
Por fim, quero homenagear
todos os profissionais aqui presentes e aqueles que agora estão salvando mais
vidas, através de duas pessoas. Quero saudar o amigo, o profissional, o ser
humano e colega de atividade parlamentar, o Ver. Cláudio Sebenelo. Também
saudar o mestre, o amigo, médico sanitarista, que, na sua juventude, abdicou de
todos os seus prazeres de classe média para trabalhar num estado chamado
Amazonas para salvar vidas: meu amigo, meu irmão, meu conselheiro, Dep. Germano
Bonow, atual Secretário da Saúde. Parabéns a todos os médicos! Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE:
O Dr. Flávio D’Agosto está com a palavra para falar em nome dos médicos.
O SR. FLÁVIO
D’AGOSTO: (Saúda
os componentes da Mesa.) A Medicina no Brasil, aliás, quase que no mundo todo,
é paradoxal. O Dr. Sebenelo já traçou algumas tintas. Em um país em que se faz
de tudo quanto existe de mais moderno - fazemos transplantes, cirurgias
cardíacas maravilhosas, verdadeiros milagres - e, no entanto, a dengue, a
malária, a leishmaniose aumenta, e outras, onde está o erro? É a reprodução do
paradoxo deste País, porque, na medida em que freqüenta a lista da Forbes -
nunca leio, mas vejo tanto brasileiro sendo citado -, em compensação, deveria
ser notícia em capa preta de tão vergonhoso que é o fato de que 350 mil
crianças morrem por ano neste País. A riqueza extrema e a miséria extrema. Como
compatibilizar isso? E o exercício da Medicina é extremamente trágico porque
ficamos no meio desse dilema. Temos que atender a todos, temos que tentar
salvar todos e, como dizia o meu Vereador, no mínimo, temos que consolar todos.
Como fazermos isso? Consolar com a mentira? Dizer a verdade? Não se sabe. Nós
também vivemos o dilema das coisas antípodas.
Na verdade, embora não tendo
a representação das minhas outras entidades, mas, certamente, eles vão me dar
esse mandato, porque não interessa onde estejamos, seremos sempre médicos.
Queremos agradecer ao nosso
Vereador, que é médico, por lembrar do nosso dia, 18 de outubro. Por que 18 de
outubro? Porque é o dia de São Lucas. São Lucas era o evangelista médico e no
Evangelho, quando se lê Lucas, há muito pouco milagre. É, talvez, o Evangelho
que menos milagres relata, até porque Lucas, porque era médico, sabia e talvez
estivesse dizendo: “Médicos, não podemos fazer milagres”. O problema é que nos
cobram milagres e nos cobram milagres todos os dias, e quando os milagres não
acontecem se revoltam porque a figura que está na frente, representando toda a
marcha de erros que vêm se acumulando, somos nós. É aquele indivíduo de avental
branco, até de outras cores, que está ali, perante a população. Esse é o
indivíduo que tem que levar as culpas, e nos dão culpa. Não se lembram dos imensos
acertos que nós temos todos os dias, pois, na verdade, o que contam,
infelizmente, são os erros. De qualquer maneira, como é bom ser médico!
Sempre conto para os meus
filhos que eu, na altura do 5º ano, tive um dos maiores desastres da minha vida
porque fui submetido, na Universidade de São Paulo, a um teste vocacional.
Quando me entregaram meu teste vocacional, ia ser médico. Que coisa boa! Ia ser
doutorando, que, naquela época, era a fase mais importante da vida da gente
porque num ano nós éramos doutorandos, todo futuro estava na frente, e no outro
iríamos ser um simples “mediquinho” recém-formado; iria ser uma queda de
“status” tremenda. Deram-me um resultado dizendo que tinha vocação indefinida.
Como fazer isso, eu, médico com vocação indefinida? Não tenho vocação definida,
tenho vocação para tudo. Tenho que seguir um caminho, o caminho da ética,
tentar trilhar o caminho da ética. O que é ética? É moral? É. Substantivamente,
é. Mas adjetivamente é bem diferente. Fundamentalmente, moral é o caminho do
bem e do bom, e é isso que cada médico acha que faz: ele trilha o caminho do
bem e do bom. Nós precisamos muito do auxílio de casas como esta.
Apenas um aparte: esta Casa
me deu a maior alegria da minha vida quando recebi o título de Cidadão de Porto
Alegre, o único título que guardo em um quadro na minha casa. O meu diploma nem
sei mais onde anda, mas este título está enquadrado na minha casa e tenho o
maior orgulho de ter recebido dessa Cidade que um dia escolhi, que me acolheu e
que me recebeu dizendo que sou porto-alegrense. Esta Casa tem uma
responsabilidade imensa. Ela tem a responsabilidade de nos apontar caminhos.
Vou-me permitir uma citação
literária: quando Alice no País das Maravilhas entrou, encontrou aquela famosa
figura de dois olhos, aquele gato. Ela perguntou para o gato: “Para onde é que
eu vou?” E o gato respondeu: “Para onde você quer ir?” Ela respondeu: “Eu não
sei”. E o gato, então, disse: “Para quem não sabe aonde vai, qualquer caminho
leva”.
Nós temos que encontrar o
caminho. Nós temos que encontrar o caminho onde todos sejam dignamente
atendidos, mas que nós, também, sejamos dignamente recompensados.
Profissionalmente estamos muito mal recompensados. Nós temos a melhor pesquisa
profissional feita no mundo, que é a pesquisa Perfil do Médico. Ela mostra um
quadro trágico: um médico carregado com todas as responsabilidades, mas
desiludido do futuro, um médico que não tem fé no futuro, um médico que
acredita na Medicina, mas não acredita no ser médico, um médico que para ganhar
mil, 350 reais em média, neste País, tem que trabalhar em três ou quatro
empregos. Temos que corrigir isto.
Mas, voltando à Alice, nós,
médicos - não apenas nós médicos, mas todos nós -, temos que nos reencontrar
com a rainha, que dizia para a Alice: “Vamos correr.” E a Alice corria. E
perguntava: “Mas por que estamos correndo tanto?” E ela dizia: “Para ficarmos
no mesmo lugar.”
Nós temos que correr um
pouquinho mais ligeiro para que a Medicina e os médicos se sintam dignificados
e possamos um dia, nesta Casa, de novo, ter apenas palavras de festas. Mas, de
qualquer maneira, em nome da categoria médica, o nosso muito obrigado pela
homenagem. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Neste
momento, vamos conceder a palavra para o Deputado Eliseu Santos, que é
Presidente da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do
Estado.
O SR. ELISEU
SANTOS: Sr.
Presidente, autoridades presentes, meus colegas, amigos, companheiros,
Vereadores. É com satisfação misturada com tristeza que eu ocupo esta tribuna.
Com satisfação porque vejo que existem homens que sonham com o Dia do Médico. O
Dia do Médico deveria ser mudado. Não deveria ser no dia 18 de outubro.
Deveriam ser cinco ou seis dias do médico: o dia do médico que atende à
atividade privada, o dia do médico que atende aos convênios a 16 reais por
consulta; o dia do médico que atende o SUS por 2 reais e 50 a consulta, o dia
do médico que trabalha num Pronto Socorro, seja do Estado ou da Prefeitura, que
ganha determinado salário, o dia do médico que trabalha na mesma Prefeitura,
mas que trabalha numa vila e que ganha um salário diferente. Será que essas
vidas todas também têm valores diferentes? Será que o da vila vale menos que
aquele que entra no HPS? Será que o do convênio é mais importante do que aquele
que está no SUS? Uma realidade é triste: é verdade. Entrem nos hospitais que
vocês vão ver uma porta bonita, com letreiro bonito, escrito assim: “convênios
e particulares”. Olhem uma outra porta meio desbotada, quem sabe o cupim já
está pegando lá por baixo; ali está escrito: SUS - ali o pessoal entra a
roldão. Nós teríamos que ter vários dias dos médicos. Somando tudo, chegamos à
conclusão de que o médico, coitado do médico, é uma vítima.
Agradeço a Deus, porque
consegui realizar o meu sonho. Sou filho de um operário, de um guarda noturno;
na minha infância, tive vontade de ser médico e consegui chegar lá. Agradeço a
Deus, ainda, porque consigo trabalhar num lugar onde não me decepciono e não me
frustro. Faço uma referência aqui ao Grupo Hospitalar Conceição, ao Hospital
Cristo Redentor, onde trabalho. Aliás, sem esse Grupo Hospitalar, o Rio Grande
do Sul estaria à beira do caos. Graças a Deus que lá não me frustro.
Enfrentamos dificuldades, temos problemas, mas consigo realizar alguns dos meus
sonhos naquele hospital.
Dr. Cláudio Sebenelo, meus
parabéns! Tomara que possamos, um dia, comemorar o Dia do Médico com muita
dignidade e não apenas atrás do dinheiro, mas atrás da valorização
profissional. Hoje somos objeto da exploração. Existem grupos que nos usam e
usam a doença, o sangue, a morte para usufruir lucros. Isso um dia tem que ter
fim. A Medicina que eu quero fazer, a Medicina que eu sonho e que sonhei para
os meus filhos, que hoje não querem mais ser médicos... Eles têm a coragem de dizer:
“Pai, tu achas que eu sou louco? Eu não vou mais ser médico.” O homem tem que
sonhar. Eu sonho com uma Medicina mais humana, em que não haja pacientes de
classe “a” ou “c”, mas que haja paciente que busca o médico na sua doença, na
sua dor e que encontre nele um técnico, um bom profissional, um amigo e que
esteja feliz com a sua profissão, porque, tenho certeza, a classe médica no
Brasil não está feliz. Vamos em busca de um dia mais feliz! Muito obrigado.
(Não revisto pelo
orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Antes
de encerrarmos a presente Sessão Solene, queremos, em nome da Mesa, saudar esta
belíssima iniciativa do Ver. Cláudio Sebenelo.
Permita-me, Dr. Flávio, que
eu também dê o meu testemunho. Como o meu colega Ver. João Dib, há 21 anos,
quando fui vítima de um acidente de carro, foi graças ao nosso Hospital Pronto
Socorro e ao Hospital Cristo Redentor que hoje eu posso estar aqui, neste dia,
prestando esta homenagem aos nossos médicos. Com certeza, Ver. João Dib, o
médico tem um pouco de pai, de mãe, tem um pouco de grande amigo, e o médico,
com certeza, tem um pouco de Deus. Por tudo isso a nossa alegria e satisfação
em poder presidir esta belíssima Sessão Solene em homenagem aos médicos.
Neste momento vamos ouvir o
Hino Rio-Grandense.
(Executa-se o Hino
Rio-Grandense.)
Estão encerrados os
trabalhos da presente Sessão Solene.
(Encerra-se a Sessão às
18h18min.)
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